Muitos dos meus amigos - conhecidos, será a expressão mais correcta - não compreendem a dor de ser canhoto. Pois é, com certeza o estimado (mas não inteligente) leitor nunca terá parado um minuto para pensar neste caso, que afecta milhões de indivíduos ao redor deste pequeno, porém não literalmente quadrado, mundo. Diariamente transeuntes são apedrejados e seguidos por multidões de ancinho e tochas incandescentes na mão a gritar “Morte ao canhoto, morte ao canhoto” perante florestas e riachos. Na sociedade actual, ao contrário do que se pensa, não são os mais fortes que sobrevivem. É a maioria. E como a maior parte das pessoas são pouco inteligentes (ou, para ser mais simpático, burras como o caralho) receiam e chegam mesmo a odiar seres superiores tanto intelectual como fisicamente. Num planeta onde a droga é consumida cada vez mais e mais por policias que a apreendem, vê-se pitas a escrever “ler? ixO eh pa crOmox” no Hi5 e Zorbas (é de sonho!) a utilizarem expressões ridículas (que não lembram nem ao Nosso Senhor, Jesus Cristo) enquanto mostram fotos em tronco nu e é tão provável concluir a incessante procura pela alma gémea de cada um tal como a probabilidade da inesperada neve que caiu este fim-de-semana passado na nossa pacata cidade, Caldas da Rainha, que me fez acordar de alvoroço no domingo de manhã (ressacado, como o caralho) e mandar com a puta que a pariu a minha irmã ao berrar “Francisco, Francisco, vem ver isto rápido”, pensando que ela tinha uma aranha ou qualquer animal semelhante (com muitas patas e bem pequeno e inofensivo) no quarto. Relendo calmamente a frase anterior, reparei que é de difícil leitura e provavelmente não faz sentido nenhum. Porém, decidi não dizer nada e deixar o tão ingénuo leitor na dúvida da sua inteligência, concluindo que (e passo a citar o meu cérebro): “Ser canhoto é mesmo fodido”. Beijinhos fofos ou, como dizem os Holandeses quando vão a Itália, baci.